Gamarra, o maior empório comercial do Peru, está localizado no distrito de La Victoria, em Lima. Este vibrante centro de atividade econômica e cultural se estende principalmente ao longo das avenidas Aviación e 28 de Julio, tornando-se um ponto de encontro essencial para comerciantes e visitantes de todo o país.
O nome Gamarra homenageia Agustín Gamarra Messía, um militar e político peruano do século XIX. Gamarra foi uma figura crucial na história da independência do Peru, servindo como presidente em duas ocasiões. Seu papel como líder e suas contribuições significativas ao país o tornaram uma figura memorável. Segundo o historiador Carlos Contreras, a rua onde o empório está localizado já carregava o nome de Agustín Gamarra antes mesmo do surgimento do centro comercial.
Gamarra é amplamente reconhecida pela fabricação de roupas e pela sua forte ligação com o mundo da moda. Este empório oferece uma vasta gama de produtos têxteis e de moda a preços acessíveis, tornando-se sinônimo de oportunidade e trabalho árduo. A denominação “emporio” reflete sua origem informal e espontânea como um centro de oficinas têxteis, diferentemente de centros comerciais formais como Real Plaza ou Jockey Plaza.
O Polo Têxtil e de Confecções
Segundo Diógenes Alva Alvarado, presidente da Coordenadoria de Empresários local, Gamarra é “o maior polo têxtil e de confecção da América Latina. Quem faz moda tem de vir a Gamarra.” Provavelmente ele não está exagerando. Esse polo engloba 34 quarteirões no distrito de La Victoria, uma área pobre ao leste da capital peruana, junto a uma das maiores favelas da cidade. O nome Gamarra vem da principal rua de acesso. O centro de Gamarra, vários quarteirões de calçadão, cercado por grades, é tomado por prédios de dois a seis andares. São construções envelhecidas, mal cuidadas, com evidentes sinais de que os andares superiores foram sendo acrescentados ao longo do tempo. Alguns anos atrás houve uma anistia para as áreas construídas sem autorização. No térreo e nos primeiros andares funcionam lojas, principalmente de roupa, mas também de tecidos e insumos para confecção. Nos andares de cima dos prédios estão as oficinas de confecção, onde se produz quase tudo que está à venda mais abaixo. Nos quarteirões ao redor desse centro funcionam centenas de lojas de equipamentos para confecções, desde máquinas de costura a bordadeiras automáticas. Há ainda assistência técnica, armazéns, depósitos e, claro, mais pequenas fábricas de roupas.
A Dimensão de Gamarra
Os números fornecidos por Alva são superlativos. Gamarra hospeda cerca de 26 mil empresários e 100 mil trabalhadores. Num dia normal, a região recebe entre 150 mil e 200 mil visitantes. Na alta temporada, entre 400 mil e 500 mil. Há venda de varejo e atacado. Esses dados podem estar inflados (não há estatísticas oficiais), mas não muito, como a reportagem do Valor pôde verificar em duas visitas a Gamarra, num sábado e numa sexta-feira. No sábado, toda a região central lembrava um dia movimentado na rua 25 de Março, no centro de São Paulo. O trânsito na região que cerca a área de calçadão de Gamarra é caótico. As ruas são parcialmente tomadas por vendedores ambulantes. Não há metrô em Lima e quase todo o transporte público é feito por velhos micro-ônibus e por pequenas vans, igualmente velhas e fumacentas. Junto à rua Gamarra, principal acesso ao centro-calçadão, centenas de carros – também velhos e fumacentos – se aglomeram, carregando e descarregando pessoas e coisas.
No calçadão cercado, quase não há ambulantes. Uma guarda privada cuida da segurança. Mesmo assim, orientam os visitantes a segurar bem bolsas e pertences e a evitar usar máquinas fotográficas. Por toda parte há cambistas, devidamente identificados com coletes, oferecendo-se para trocar dinheiro, não só para os poucos turistas e os compradores estrangeiros, mas também para muitos peruanos. O Peru é um país quase bimonetário, onde as pessoas podem ter contas bancárias e sacar em dólares. Curiosamente, como medida de controle, os cambistas ambulantes carimbam sua identificação nas notas de sol, a moeda local, que dão aos clientes. Assim, se alguma delas for falsa, é possível saber quem fez a operação.
A Ressurreição de Gamarra
O empresário Alva Alvarado recebeu o Valor para uma entrevista no seu pequeno escritório, lotado de sacos de produtos de suas lojas e localizado ao final de um corredor labiríntico. Ele fala com orgulho da ressurreição de Gamarra após a crise do final dos anos 90. “Em 1998, Gamarra era uma zona de prostituição e delinquência. O contrabando e a crise econômica tinham liquidado os negócios.” A repressão ao contrabando, a melhora do clima dos negócios e o retorno do crédito nesta década ajudaram a retomada. “Mas crescemos sem apoio do governo.” “Nós começamos empiricamente. Quase todos aqui vieram do interior, da agricultura, não tinham experiência. Eu mesmo vim da Amazônia [peruana] com a roupa do corpo”, disse Alva. “As micro e pequenas empresas se capacitaram em corte, design e controle de qualidade.” Gamarra recebe entre 150 mil e 200 mil visitantes por dia. Na alta temporada, entre 400 mil e 500 mil. Segundo ele, o faturamento anual oficial (“com recibo”) do complexo Gamarra é de US$ 1,2 bilhão, com crescimento de dois dígitos há alguns anos.
Variedade de Produtos e Mercados
Há um pouco de tudo por lá: de roupa de cama, de bebê, cortinas, confecções populares até grifes internacionais, cuja produção é terceirizada para empresas locais ou simplesmente pirateada. “Muita coisa que se compra nas lojas chiques de Miraflores [o bairro nobre de Lima] são feitas aqui”, disse o empresário. Ele diz que todo mês de fevereiro, um grupo de empresários locais viaja pelo mundo em busca de modelos, inspiração, produtos e insumos. “Precisa andar na onda da globalização”, explica Alva. O setor têxtil e de confecções tem ganhado importância na economia peruana e já é o principal entre os setores não tradicionais. As exportações cresceram em média 12% ao ano nos últimos oito anos e devem chegar a US$ 2 bilhões este ano. Parte dessas exportações saem de Gamarra. “Temos alguns mercados ganhos, como Equador e Venezuela. Os cubanos estão comprando muito, e as vendas aos EUA estão crescendo. Muitas pessoas que antes iam comprar em Miami, agora vêm a Gamarra”, disse Alva. Para exportar, é preciso concorrer com a produção chinesa. “Os chineses vão chegar de todo modo, por terra, ar e mar. Mas podemos competir com a China com um produto melhor, o nosso algodão”, acredita Alva.
A Competitividade do Algodão Peruano
O algodão peruano é a maior vantagem comparativa da indústria têxtil do país. “O Peru é competitivo com a China nos EUA em alguns produtos devido a sua marca. O algodão peruano, de fibra longa, é um produto de alta qualidade e trataremos dele em outra publicação dedicada exclusivamente a essa fibra.