As mulheres costureiras autônomas, conhecidas popularmente como costureiras de consertos em geral, têm desempenhado um papel fundamental ao longo da história, tanto nas comunidades locais quanto na cadeia da moda. Com o objetivo de conhecer o perfil ou os perfis das costureiras autônomas, assim como mapear suas necessidades, seus desafios e oportunidades relacionadas à profissão, a coalizão de parceiros de Moda Justa Sustentável da Aliança Empreendedora apoiou uma pesquisa nacional para entender melhor a realidade dessas mulheres.
A pesquisa realizada pela equipe da Aliança Empreendedora ocorreu em duas fases de alcance nacional. “A fim de nos aprofundarmos na realidade das costureiras de reparos, buscando trazer luz à sua profissão e propomos ações de fortalecimento destes negócios, realizamos esta pesquisa também para gerar e compartilhar conhecimento sobre seus resultados com organizações e pessoas interessadas, com o intuito de construir cenários e políticas públicas de apoio a costureiras autônomas de reparo de roupas, considerando inclusive as oportunidades que elas terão diante da agenda de sustentabilidade que promove a longevidade das peças.”, diz Cristina Filizzola, líder de projetos e presidente da Aliança Empreendedora.
A primeira fase foi quantitativa, utilizando questionários online, enquanto a segunda fase foi qualitativa, empregando questionários semiestruturados, também realizados online, para aprofundar a análise individualmente. O estudo obteve um total de 140 respostas válidas, das quais 40 foram conduzidas como entrevistas na Fase 2. Essas respostas foram provenientes de 21 estados brasileiros. Notavelmente, a região Sudeste apresentou a maior concentração de participantes.
Na fase quantitativa, 78% das participantes se autodeclararam negras (pardas e pretas). Já na segunda fase, de caráter qualitativo, todas as participantes se identificaram como negras (pardas e pretas), enfatizando não apenas a liderança de gênero, mas também a representatividade racial. Dentre elas, 41% possuem ensino médio completo e detêm de uma idade média de 39 a 48 anos.
O cenário aponta que 42% dessas mulheres são solteiras e 77% delas são mães. Essa estatística corrobora os dados do IBGE, que demonstra a presença de 11 milhões de mães solos no Brasil, que assumem a responsabilidade pela criação dos filhos, conciliando trabalho e sustento financeiro da família. Esse excesso de responsabilidades resulta em uma estatística marcante da pesquisa, com 69% das mulheres se sentindo sobrecarregadas. Destas, 43% trabalham diariamente, enquanto 36% têm apenas um dia de folga por semana, além disso, 65% trabalham sozinhas.
Dados como estes reforçam a estatística de metade das entrevistadas mencionarem ter enfrentado problemas de saúde relacionados ao trabalho. “É um trabalho que nem sempre se faz em condições adequadas e que acarreta, muitas vezes, prejuízos para a saúde. É importante que haja um olhar para estas mulheres que, em sua maioria, trabalham de forma pulverizada em suas casas, são invisibilizadas, pouco valorizadas e, como mostra este estudo, não formalizadas”, complementa Cristina Filizzola.
Apesar do número de empreendedores individuais no Brasil ter crescido de maneira acelerada ao longo da última década, a informalidade dos negócios é uma realidade persistente, principalmente para as costureiras autônomas. Segundo dados da pesquisa, 90% moram no mesmo local onde trabalham. Mais de 62% das entrevistadas fazem parte do trabalho informal; das formalizadas, 36,4% são MEI e 1,4% ME. Ou seja, é possível notar neste estudo um número mais alto de informalidade que a taxa média no país, que é de 45% (segundo GEM, 2022).
Ainda que o cenário demonstre ser desafiador, 90% delas relataram trabalhar com costura por amor. Deste grupo, 71,2% disseram amar e precisarem da renda, e somente 10% responderam escolher a costura apenas por falta de alternativa e/ou apenas pela necessidade da renda. Entretanto, das que declararam ter faturamento, a maioria (62%) ganha menos de um salário-mínimo e 85% das entrevistadas estão abaixo da faixa salarial de uma costureira em geral em regime CLT. Panorama desafiador, visto que 46% delas têm a costura como importante fonte de renda familiar, sendo que quase 22% sustentam a família apenas com a renda vinda da costura.
Resilientes, 97,5% declararam ter sonhos como costureira e possuir o próprio ateliê/espaço de costura como principal meta. Para isso, quase 83% das costureiras buscam capacitação em gestão de negócios e 91% em técnicas de costura, principalmente através de recursos online. Apesar do interesse em cursos gratuitos, apenas 18% contemplam redes de apoio, revelando um ambiente solitário na busca por soluções e troca de experiências.
Ainda que a costura seja vista como uma forma de terapia e muitas vezes perdura o sentimento de empoderamento em mulheres costureiras e autônomas, destaca-se a importância de fomentar a articulação, desenvolvimento e fortalecimento de instituições locais gerenciadas por mulheres, com o objetivo de atuar no coletivo e em rede, contribuindo assim para uma agenda de participação cidadã plena e emancipatória no campo das políticas públicas.
Para acessar a pesquisa completa, é só acessar o link.
Coalizão de parceiros de Moda Justa Sustentável da Aliança Empreendedora
A coalizão é formada pelos Instituto C&A, Instituto Lojas Renner, Instituto SYN, Abit – Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção e ABVTEX – Associação Brasileira do Varejo Têxtil, que desde 2021 vêm apoiando diversos projetos da Aliança Empreendedora, visando promover o trabalho digno na cadeia de confecção-têxtil.