No coração de Mombaça, Quênia, a movimentada manhã de sábado no mercado de Kongowea traz consigo não apenas a agitação habitual, mas também uma carga valiosa de roupas de segunda mão. Empacotadas em fardos de 50 kg, essas peças, que variam de calças jeans a lençóis e camisetas, são comercializadas a preços que vão de 15,00 a 500,00 dólares americanos. Contrariando a percepção comum de doação, essas roupas estão, na verdade, sendo adquiridas.
A venda de roupas de segunda mão tornou-se um grande negócio em países em desenvolvimento, envolvendo mais de 1 milhão de pessoas no Quênia, desde políticos até vendedores locais. Contudo, surge uma questão crucial: o que acontece com as peças não vendidas? Do trajeto da Europa e EUA para a África e além, aproximadamente 30% a 40% dessas roupas acabam se transformando em resíduos, poluindo rios e oceanos. Diariamente, cerca de 150-200 toneladas de resíduos têxteis – equivalente a 60 a 75 caminhões – são despejadas em aterros, queimadas ou depositadas em locais como Dandora, o maior aterro da África Oriental, próximo a Gikomba, o coração pulsante da indústria de roupas de segunda mão de Nairóbi.
Em 2021, a União Europeia exportou impressionantes 22,5 milhões de quilos de roupas para o Quênia, totalizando mais de 112 milhões de itens individuais. No entanto, isso representa apenas uma pequena fração do volume colossal de 5,8 bilhões de quilos de roupas descartadas pelos europeus anualmente, o que se traduz em aproximadamente 11 quilos por pessoa. A África, infelizmente, tornou-se um depósito para os excedentes do primeiro e segundo mundo. Diante desse cenário, surge a pergunta: há esperança de mudar essa situação?
Em 2016, cinco países do leste africano – Quênia, Uganda, Tanzânia, Burundi e Ruanda – propuseram um plano conjunto para proibir a importação de roupas de segunda mão, conhecidas como Mitumba. No entanto, essa iniciativa enfrenta resistência, uma vez que a indústria de segunda mão desempenha um papel vital não apenas na economia africana, mas também nos países envolvidos. A implementação da proibição poderia resultar negativamente em empregos relacionados à coleta, processamento e distribuição de roupas e calçados usados.
Em meio a esse cenário desafiador, surge uma luz de esperança com a coleção “TIME TO SHINE”. Criada pelos alunos do programa Sewing Together, liderado pela renomada estilista Maja Kotala, esta iniciativa está causando impacto positivo em Mombaça, Uganda, Madagascar e Tanzânia. O programa oferece a mulheres que não concluíram a educação a oportunidade de aprender habilidades de costura e design, além de conhecimentos em marketing e negócios, tudo gratuitamente.
A mais recente coleção apresenta um diferencial importante: o uso exclusivo de materiais upcycled, como lençóis, tapetes e cortinas, transformados em peças de vestuário. Essa abordagem não apenas contribui para a preservação do meio ambiente, mas também promove a sustentabilidade na moda. Todos os lucros provenientes das vendas dessas peças são destinados a uma instituição de caridade que capacita mais mulheres em Mombaça.
As deslumbrantes fotos da coleção “TIME TO SHINE” foram capturadas por Roxana Lewandowska, uma talentosa fotógrafa polonesa residente em Málaga, nas animadas ruas de Kongowea, um dos maiores mercados de segunda mão no Quênia.
Se você deseja contribuir para essa causa e adquirir produtos Sewing Together, visite www.mkotala.com. Ao fazer isso, você não apenas estará adicionando peças únicas ao seu guarda-roupa, mas também apoiando um movimento de moda sustentável que visa fazer a diferença em comunidades locais. “TIME TO SHINE” é mais do que uma coleção; é um chamado para transformar a moda, a sustentabilidade e a vida das mulheres em Mombaça.
As fotos da coleção “TIME TO SHINE” foram capturadas por Roxana Lewandowska, uma fotógrafa polonesa que reside em Málaga, nas ruas de Kongowea, um dos maiores mercados de segunda mão no Quênia.
Fotografia: Roxana Lewandowska @roxlewandowska
Design: Sewing Together @sewing.together
Estilo: Maja Kotala @sewing.together
Modelo: Akidor Doye @ms.akidor // Faith Wairimu @ __simply_wairimu
Local: Kongowea, Mombaça, Quênia.
English version
“TIME TO SHINE” – Transforming Fashion and Sustainability in Mombasa
In the heart of Mombasa, Kenya, the bustling Saturday morning at Kongowea market brings not only the usual hustle but also a valuable load of second-hand clothes. Packed into 50 kg bales, these items, ranging from jeans to bed sheets and T-shirts, are marketed at prices ranging from $15.00 to $500.00. Contrary to the common perception of donation, these clothes are, in fact, being purchased.
The second-hand clothing market has become a significant business in developing countries, involving over 1 million people in Kenya, from politicians to local sellers. However, a crucial question arises: what happens to the unsold pieces? On their journey from Europe and the USA to Africa and beyond, approximately 30% to 40% of these clothes end up as waste, polluting rivers and oceans. Daily, about 150-200 tonnes of textile waste, equivalent to 60 to 75 truckloads, are dumped in landfills, burned, or deposited in places like Dandora, the largest landfill in East Africa, near Gikomba, the vibrant heart of Nairobi’s second-hand clothing industry.
In 2021, the European Union exported an astonishing 22.5 million kilograms of clothes to Kenya, totaling over 112 million individual items. However, this represents only a small fraction of the colossal 5.8 billion kilograms of clothes discarded by Europeans annually, roughly translating to about 11 kilograms per person. Unfortunately, Africa has become a dumping ground for surplus from the first and second worlds. Faced with this scenario, the question arises: is there hope to change this situation?
In 2016, five East African countries – Kenya, Uganda, Tanzania, Burundi, and Rwanda – proposed a joint plan to ban the importation of second-hand clothes, commonly known as Mitumba. However, this initiative faces resistance, as the second-hand industry plays a vital role not only in the African economy but also in the countries involved. The implementation of the ban could negatively impact jobs related to the collection, processing, and distribution of used clothes and footwear.
Amidst this challenging scenario, a ray of hope emerges with the “TIME TO SHINE” collection. Created by students of the Sewing Together program, led by the renowned fashion designer Maja Kotala, this initiative is making a positive impact in Mombasa, Uganda, Madagascar, and Tanzania. The program offers women who haven’t completed their education the opportunity to learn sewing and design skills, along with knowledge in marketing and business, all free of charge.
The latest collection introduces a significant differentiator: the exclusive use of upcycled materials such as bed sheets, carpets, and curtains transformed into clothing pieces. This approach not only contributes to environmental preservation but also promotes sustainability in fashion. All profits from the sales of these pieces are directed towards a charity empowering more women in Mombasa.
The stunning photos of the “TIME TO SHINE” collection were captured by Roxana Lewandowska, a talented Polish photographer residing in Malaga, on the lively streets of Kongowea, one of the largest second-hand markets in Kenya.
If you wish to contribute to this cause and acquire Sewing Together products, visit www.mkotala.com. By doing so, you are not only adding unique pieces to your wardrobe but also supporting a sustainable fashion movement aimed at making a difference in local communities. “TIME TO SHINE” is more than a collection; it’s a call to transform fashion, sustainability, and the lives of women in Mombasa.
Photography: Roxana Lewandowska @roxlewandowska
Design: Sewing Together @sewing.together
Styling: Maja Kotala @sewing.together
Model: Akidor Doye @ms.akidor //Faith Wairimu @ __simply_wairimu
Place : Kongowea, Mombasa , Kenya.