Temos máquinas que imprimem estampas incríveis, que posicionam e cortam automaticamente moldes, mas não encontramos uma única que faça tudo o que nós costureiras fazemos. Somos ou não somos tecnológicas?!
Você já ouviu alguém falar que costura não é nenhuma “ciência dos foguetes” (Rocket Science)? Ou seja, não é tão complicado assim. Confesso que já ouvi algumas vezes. E quem já ouviu dizer que a costureira entende pouco de tecnologia? Essa eu também já ouvi, sabe. Mas, aí eu me pergunto: se costura não é tão complicado assim e costureira entende pouco de tecnologia, por que não existe um robô que faça exatamente o que a costureira faz? Já que robôs são tão tecnológicos?!
Pois é, as costureiras nem se dão conta, mas com tanta variedade de tecidos, máquinas, linhas, agulhas, acabamentos, etc, é simplesmente impossível elas entenderem pouco de tecnologia. Elas entendem sim, e muito! A tecnologia que elas dominam está tanto nos materiais físicos como: tesouras, cortadores circulares, alicates, pinças, balancim e suas matrizes, canetas para marcação, dentre tantos outros; como também nas máquinas de costura: doméstica, industrial, overlock, galoneira, bordadeira, caseadeira, fechadeira, pesponteira, travete, etc. Nossa, fiquei até sem fôlego!
Além disso, elas podem atuar em diversas áreas da costura como, por exemplo, as de: roupas, criativa, patchwork, quilting, pet, sapatos, bolsas e acessórios, etc. E nem vou entrar nos nichos e diferentes postos de trabalho que existem em cada uma delas. Nesse texto vou focar nas costureiras que trabalham de forma independente e artesanal em sua casa.
Hoje em dia, nos acostumamos a ver as coisas mudarem de forma muito rápida. Nos acostumamos com a facilidade das redes sociais em que encontramos inúmeras comunidades de trocas de informações e dúvidas. Isso faz com que aprendamos mais rapidamente.
São mais outras duas tecnologias que as costureiras dominam: o celular e a internet. As informações em fotos, vídeos, áudios, apostilas são cada vez maiores e mais acessíveis. Muitas vezes, é tanta coisa, que temos até dificuldades em separar o que é realmente um ensinamento relevante.
Voltando à pergunta inicial: Por que um robô não consegue fazer exatamente o que a costureira faz? Fazendo uma pesquisa, encontrei somente um robô que consegue cortar e costurar camisetas sozinho. Ele é da empresa Software Automation. O robô ainda tem algumas dificuldades, não conseguindo se adaptar automaticamente às variações na fabricação dos tecidos e sendo ainda muito caro para produção em massa de camisetas.
As costureiras nem percebem, mas treinaram seus sistemas sensoriais e neurais para fazer tarefas bem complexas com facilidade. Desenvolver uma linha de produção totalmente robotizada ainda é bem difícil e caro. Além disso, o que aconteceria com tantos postos de trabalho? Esse assunto é bem relevante e renderia muitas e muitas páginas, mas voltemos às costureiras artesanais.
Viram só como somos sim tecnológicas!? É um caminho que não tem volta. Cada vez mais precisaremos que a tecnologia nos ajude tanto a aprender quanto a servir. Queremos que nosso serviço seja cada vez mais personalizado para o atendimento completo e atencioso de nossas clientes. Sabemos que as roupas estão cada vez mais baratas e que as exigências por qualidade estão cada vez maiores.
Nesse momento o trabalho artesanal da costureira volta a ter relevância, tanto no ajuste quanto na confecção de peças duráveis e de qualidade. Para isso vamos abraçar a tecnologia que nos empodera, que nos facilite com mais ferramentas práticas e acessíveis para que possamos cada vez mais sermos mais tecnológicas.
Texto de Aline Manhães Gesualdi para a edição Nº 04 da revista A Voz da Costura. Aline é Engenheira Eletrônica, professora do CEFET-RJ, CTO da Almedia Tecnologia, Costureira de Mão Cheia e uma entusiasta da tecnologia aplicada ao mundo da costura.